quarta-feira, 9 de julho de 2008

Carta Para Esperança


Chitengo, 8 de Julho de 2008

Esperança,
É natural que eu goste desse teu olhar furtivo temperado de medo e orgulho.
Esse fingimento atrevido,
A crença de que não saberei de descobrir os sentimentos.
Propositadamente me afasto para lugares seguros,
Fico no longe seja ele no antes ou depois
Para te imaginar inexistente.
A emoção de te criar me deixa extasiado
E como luz ténue do crepúsculo, o receio de nunca te ter desvanece.
E nos eternos instantes que essa vida longínqua dura,
Passo de delírios em delírios
Nuns me vejo pequeno e satisfeito e noutros, grande e carente
Com vontade imensa
Vontade intensa de te buscar para alem dessa imaginação uterinamente fértil.

Esperança,
É natural que que as distancias que nos separam, a real e a virtual,
Existam em constante conspiração contra eu e você separadamente.
Nos dias de sol quando não podemos nos expor,
Elas nos protegem de queimaduras vivas
E nos dias chuvosos, frios e invernosos
Essas mesmas distancias nos agasalham com saudades de tempos que ainda serão.

As palavras me acompanham com incomensurável lealdade
Me encorajam nessa odisseia.
Me fazem acreditar que apesar de sua fragilidade reconhecida
Saberão atravessar esses abismos que hoje nos separam
E edificar uma ponte entre nossas teimosas ignorância.
Acho injusto da minha parte
Quando as menosprezo e acuso de infidelidade.
Quando as empurro
Para irracionalidade que se assemelhe a do homem.
Rogo que desrespeitem os costume ancestrais
Que pacientemente sabiam esperar o raiar do sol.
As palavras estão aqui comigo mesmo assim.
Submissas ao meu capricho de poeta amador.
Fornicador de significados
Criador de mundo proibidos.

É natural Esperança que eu me sinta assustado quando empunhas a pena
E me falas de coração estranho. O meu ou teu?
E que estranheza seria essa?
E porque seria surpresa que os corações, meu ou teu
Fosse estranho e mesmo não sendo, pelo menos agissem?
Me pergunto se a vida no seu todo
Ou em parte
Não é estranha?
Se ate o amor rompe com o pulso das rédeas e ou rédeas no pulso e exige liberdade.
É natural que eu tema
Pois não sei nunca doque esses dedos são capazes.
Dedos untados de maternidade reprimida, prazeres condenados ao silencio.

Escrevo-te hoje Esperança,
Com a sensação das grades onde me meti.
Se tornando cada vez pequenas
O ar me faltando nos pulmões.

Escrevo-te nesse anseio de voltar no tempo
E começar tudo de novo mesmo sem certeza de fazer diferente.
E enquanto espero voltar ao templo das perguntas onde ambos cultuavamos a duvida
Vou deixar que as palavras me purifiquem mesmo que os seus significados me impurifiquem.
Vou deixar que o tempo me leve consigo na paciência dos grisalhos de sabedoria.
Vou te escrever com muita estima
Com muita estima

Nelson Livingston

2 comentários:

micas disse...

"Essas mesmas distancias nos agasalham com saudades de tempos que ainda serão"

Guarda bem dentro do teu cantinho estas tuas palavras e que elas saibam ser conforto em dias menos bonitos.

Nelson disse...

Saudades do futuro é um mistério que ainda não desvendei. Uma sensação interessante.