quarta-feira, 30 de abril de 2008

Algumas Meia duzias de palavras para Chigu


Queria ser poeta Chigu
E sussurrar-te palavras bonitas
Essas feitas de letras embriagadas

No jeito poético
A vida parece bem mais fácil de levar
Rápida com o verso
Que começa e termina num único pulmão
Ondas do mar que nascem e morrem
Num mesmo mar

E escreveria palavras inéditas
Essas que nossa amizade inventou
E aprendi a soletrar a medida que fui te conhecendo

Falaria da saudade
Esse sentimento injusto
Agradável e desagradável

Das distâncias
Várias
Que nos separam
O Índico, o tempo as nuvens
Todas contra nós

Ai se eu fosse poeta
Te obrigava a seres leitora
Pelo menos desse poema que eu escreveria
Com palavras bonitas
Feitas de letras embriagadas
Esse você teria que ler

E eu o daria às andorinhas
Que o levariam aos cangurus
Que aos saltos to fariam chegar

Se eu fosse poeta não estaria aqui perdendo tempo
Soltava as palavras dessa prisão da palma
A pedia a alma para se espalhar no ar
Na esperança que teus pulmões gulosos
Fossem sácios

Nelson Livingston

terça-feira, 29 de abril de 2008

Ao Meu Coração


Querido Coração
Queria hipocritamente dizer que entendo
Sei da saber a dor que te alimenta
Hipocritamente
Coração nunca fui nunca serei
Como entenderia
Saberia de saber
A dor que te enche o estômago?

Fecho os olhos para ver
Como nossos dias passam lentos
Ou rápidos
Como não os vejo passar
Tenho os olhos vedados
Me cega a ânsia de entender os tempos

Querido Coração
Não sei patavina
Nem sei se quero saber
O sabor desses dias que atravessamos a nado
Corre o rio da história das vontades
Para um lado
E nós para o outro.

Oque penso que entendo
Que sei de saber
É como o mundo não nos deve entender
Ou nos sabe entender mal
Isso sim sei
Sou mundo sempre fui e sei como somos

Querido Coração
Chore se te der na tola
Derrame lágrimas se houverem
Algumas guardadas para choros privados

Grite alto se te der na gana
Com voz própria ou emprestada
Faça tudo para se livrar dessa distância que nos separa
Eu aqui e você aqui
Consumidos pela mesma dor

Nelson Livingston

Não, não diga adeus...



Me espera alma amiga
Não parta assim
Depressa e devagar
Nesse grito silencioso
Como se nunca nos tivéssemos conhecido

Não parta assim não
Como uma tempestade impiedosa
Num mar de poucas águas
Arrancando areias a praias
Como o vento desgrenha os matos

Não diga adeus
Como os que vão para os céus
Como se a distância fosse mesmo existir
Capaz de separar a memória que temos
Lembranças de tempos vividos

Nossos abraços não foram tantos
Só porque queríamos mais
Não houve beijos
Só porque queríamos beijar
Queríamos tanto que decidimos não abraçar tanto
Decidimos não beijar
Até poder beijar tanto

Não vá alma amiga
Não se faça capaz de sepultar
Toda uma vida
Uma eternidade de sonhos
Semeados nos solos de um amor raro
Não, não diga adeus

Nelson Livingston

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Depois da Madrugada

Nessa madrugada
Senti o cheiro do orvalho
Sonhei com tempos distantes
Campos da minha infância inesquecível
Sonhei com sorrisos que não vejo faz tempo

Acordei com vontade de dormir
De voltar a dormir
Voltar a sonhar
Acordei com vontade de voltar no tempo
Mas eu sei que tempo que foi
É como tempo que vem
Não volta mais, não vem antes
Posso até querer com todo o querer da vida

Sei que ficar aqui o dia todos
Recheirando o orvalho que cheirei
Resonhando o tempo distante que sonhei
Não me fará Deus
Que possa trazer o tempo de volta

Melhor mesmo ir vivendo
No hoje no agora no aqui
Melhor mesmo ir sonhando no amanhã


Nelson Livingston

segunda-feira, 21 de abril de 2008

SAUDADES DE ZALALA

Quandos sinto saudades de Zalala
Vou ao Estoril
Não é mesma agua eu sei
Mesma areia mesmo sal
Mas é mesmo indico mesma grandeza

Deixo o pensamento se desprender
Fingir que não existe lugar
Não existe tempo
Fingir que Estoril é Zalala
Que Macuti é coqueiro

E tempo passa nessa mentira
E chega a verdade
Quando peço que macuti me refresque as goelas
Peço que me destile agua de lanho

Olho para o mesmo ceu azul
E não vejo a beleza habituada
Não vejo os mesmos olhos
Mesmos sorriso encantador
Não vejo Zalala que amo
Ou amei enquanto podia ter

Me deito na areia
E não me cheira mesma pureza
A virgindade que me mantem virgem
Temo ate me demorar nessa praia
Praia diferente de Zalala
Praia de outros mundos outros banhistas

Nelson Livingston

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Quero ter esperança

Quero trazer a memoria
Aquilo que da esperança
Algo que me faça acreditar no futuro
Um futuro com som e sono

Quero olhar para trás
Ver os tempos que se foram
E apanhar os pedaços que na euforia de nos amarmos
Foram ficando pelo caminho

Quero voltar aos lugares de referência
Onde nos encontramos e desencontramos
Onde nosso amor foi testado
E nossa certeza foi abalada

Quero me lembrar das viagens que fizemos ao futuro
Dos sonhos que juntos criamos
Alegrias que experimentamos na fertilidade de nossas imaginações
Quero trazer a memoria
Esses mundo que só podem vir a existência
Se não tiver passado dum pesadelo
Essa sepultura que vamos cavando
Para a historia que íamos construindo.

Nelson Livingston

Se te amo...


Se o vento me ouvisse
Levava para longe esse meu cansaço
Traduzia para língua dos amantes
Esse meu desejo de te amar
Sei que nessa língua escutarias meu coração

E se não escutasse
Aliado ao vento
Eu sacudiria as matas e as escuridão
Onde guardas a incerteza do meu amor
Tirava o medo que sentes
Que meu amor não seja igual ao que sempre sonhaste
Ou seja igual ao que sempre detestaste

Mas não posso esperar que o vento me oiça
Anda com mania de muito ocupada
Cheia de coisas importantes a fazer
E tenho certeza que não me ouviria

Não posso esperar
Que os outros façam por mim oque devo
Mostrar que te amo
Não como sonhaste ou detestaste
Não como os poetas dizem
Quando se embriagam nas palavras
Te amo de jeito incomparável que nem significa perfeito
Te amo de forma original
Sem mistura alguma


Nelson Livingston

Duvidas amorosas


Esta manha me perguntei Dadinha
Se alguma vez te amei
Como o sol ama a madrugada
O vento se gruda na tempestade

Tem coisas que meu cérebro de menino
Vivendo numa alma de velho feito
Nega entender

E esse mistério de coração apaixonado
Passa bem pro cima dos meus cabelos brancos
Longe do meu entender humano

Me perguntei Dadinha
Porque hoje vivo longe dos teus olhos
Longe da força que amava
E me pergunto
Se alguma vez te amei
Como o sol ama a madrugada
O vento se gruda na tempestade

Mas o amor não tem que ser só como do sol
Como o vento se gruda na tempestade.
Eu posso te amar de forma diferente
Amar-te como o mar ama o sal por exemplo
Amar-te de trás para frente
Contrariando o curso da vida

Perguntei-me nesse silêncio que criei
O que me impede a amar-te com os meninos da minha idade
Amam suas amada
Amar para longe para um futuro
Amar de palavras e feito
Com filhos e netos

Me perguntei porque tenho medo de te amar
Sem coração sem alma
Sem referência alguma
Amar-te assim como as palavras escorregam
Dos meus dedos controladores.

Nelson Livingston

sábado, 12 de abril de 2008

NOSTALGIA

Dedicado ao grande Dery Navais, "Mi Koroa"
Imagem retirada daqui

O mundo deu suas voltas e te encontrei.
Voltemos às margens do Molócue
Onde aos fins de tardes
Cobiçávamos corpos tatuados de desejos proibidos
Nos esfregávamos águas purificadoras
Enquanto esperávamos a noite chegar

Voltemos às bandas de Nahavara
Onde furtiva e simultaneamente caçávamos e pescávamos
Artes que nos vinha impregnada nas veias virgens
Onde nosso sangue fervia.

Voltemos à Moneia
Onde se gabavam belezas divinas
E nós, profanos violávamos os santuários
As sacerdotisas raptávamos para rituais privados

Voltemos ao Nantroveia e Chapaeia
Onde os sabores eram misturados
Antes de descerem e subirem
Antes de fermentarem as mentes que pariam
Os mais cândidos poemas

Voltemos às ruas de Gilé
Onde nossas vozes hoje consagradas
Se desafinavam e desafiavam o canto das floresta

Voltemos Derito
Ao Munvere onde o pão da única padaria
Se mistura com a única Graciela
E não lhes sabíamos diferenciar

Onde a profissão de professor se confundia
Com a paixão dos professores
Ai Albertina minha nostalgia
Voltemos Derito
Nem que seja apenas na loucura dessas palavras

Nelson Livingston
Beira 12 de Abril de 2008

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Silêncio


Nesse silêncio eterno
A vida parou dentro de mim
Parece até que chegou o fim
Aquele medonho dia dos adeus
Quando uns partem para os céus
E ouros para lugares incertos

Quero acordar
Dizer que foi só um pesadelo
Mas temo estar enganado
Temo ter cruzado a linha final
Tenho ter atirado a pedra
Que não se pode desatirar
Falado a palavra que não posso desfalar

Vou juntar as nuvens
Juntar as energias e produzir um trovão
Vou nesses dia que vão chegando
Produzir um ruído
Para teus ouvidos

Nelson Livingston