terça-feira, 16 de novembro de 2010

NO SILENCIO DOS SONHOS

No dia em que me encontrei,
tu vinhas lá do fundo da alegria,
só com o olhar.
Trazias nas mãos a fantasia
e esse teu corpo, onde vestias
todas as máscaras do tempo.

Sabias desatar os nós das gargalhadas.
Percorrias as ruas da minha vida,
espalhando palavras simples, puras,
mas sempre desatadas.

Á boca da cena dos dias encantavas multidões.
E eu eterna miúda ouvia.
E ficava com a alma toda presa de emoções.

Conheci as palavras do silencio,
caladas no momento derradeiro,
em que tudo é nada e nada é tudo.
E esse instante ficava pleno e profundo.

Depois, não sei se as ruas se encheram de silencio,
lembro-me apenas, que tu levaste as palavras para casa
e eu nunca mais as encontrei.

Sempre te conheci nas minhas memórias,
sem papel, nos bastidores de ti.

Há sempre um dia para regressar.
E hoje tu voltaste com um livro de poemas
que foste semeando no silencio dos sonhos,
encenado nas horas de solidão,
procurando nos lugares a ressonância da alma dos dias,
das pessoas e da nossa memória! 

Neja

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Ào Paló, um amigo distante

Paló, meu amigo
Teu silêncio me atormenta
Fico olhando para a lua
Esperando que ela me diga
Onde foi que você se escondeu
Enquanto as estrelas me zombam
Mas eu sei que um dia você volta
Se solta dessa vida que te aperta
E você volta

Vai ser preciso trazer um regador
É que as flores do jardim da nossa amidade
Poderão ter murchado
E se chegarem a morrer
Os deuses da amizade
Não nos perdoarão

Vou deixar-te um abraço
Nele esfreguei a fragrância da saudade
A dor de não te ouvir 
Deixei gravado o desejo de ter tuas noticias

Abraço mergulhado
Nas águas do Índico
Que com certeza se misturam algures
Com o teu Pacífico

Nelson Livingston(Renatus)

sábado, 6 de novembro de 2010

Arte de Ser mãe

Deixa-me juntar como farinha numa esteira
Palavras espalhadas no coração
Mistura de sentimentos
E desejar-te sucessos
Na arte de ser mãe
Essa coisa de gerir o mundo
Escondido na vida do filho

Nelson Livingston(Renatus)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tempos de menino

Voltei aos primórdios
Aos tempos de menino
E é como viver a mesma vida
Pela segunda vez
Só que desta vez com mais cuidado
Que já não é minha meninice

Nelson Livingston(Renatus)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

René, meu filho III

René meu filho
umas das dificuldades de ser teu pai
Reside na necessidade e impossibilidade
Necessidade de te falar algumas coisas
E impossibilidade de falá-las
Nas formas já existentes
Queria poder inventar um jeito novo de te falar
E espero fazer isso

Nelson Livingston(Renatus)

Reivindicação

Ouvi-te dizer que tenho nos olhos
Cicatrizes de tua beleza
Lembranças fortes
Da topografia de teu corpo
Cada centímetro quadrado
Milímentro quadrado
Dessa tua existência física


Ouvi-te dizer que vivo do passado
Dos registos da vida
Que vivi às pressas
Tempo que passou e não percebi

Talvés queres dizer que o tempo e a vida pararam
E nada mais houve
Depois que partiste
Que se possa chamar existência significativa
Temo no entanto
Que seja um equívoco
Simplesmente um equívoco

Nelson Livingston(Renatus)