terça-feira, 26 de outubro de 2010

Metades!

Hoje piso o chão pela metade
Da vontade
De pisá-lo na totalidade
Mas a vida inteira
Completa
Vai fluindo entre as metades
Do ontem, hoje e amanhã
Do cérebro indomável

A metade que não piso
Fica fermentando
No alambique do futuro
E o vapor etilizado
Amamenta minha locomotiva

Um pé aqui
Mesmo pé ali
A vida é feita de pedaços
De várias côres
Dores
Vários sabores

Nelson Livingston(Renatus)

Deixa-me voar

Deixa-me voar como pai
Perdido no vento de novidades
Rasgar os ares
Desse meu céu novo.

Asas estendidas
No nada conhecido
Na ignorância prazeirosa
De coisas de paternidade

E me ajude a não despenhar
Ou a ajuntar os destroços todos
De cada queda
E continuar a voar como pai

Nelson Livingston(Renatus)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Só as palavras me consolam



Só as palavras me consolam agora
Me deixo ficar nos seus braços
Enquanto me embalo
No silêncio ruidoso
Que elas criam
Um contraste agreste
Para o meu ser turbulento
Que busca chamas
Onde se possa aquecer

Só palavras me falam ao coração
Não ditas ou escritas
Mas essas produzidas em gemidos suaves
Gestos minúsculos
Essas escritas indelevelmente
De coração para coração

 Nelson Livingston(Renatus)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

René, meu filho II !

Hoje acordei seu pai
Não faz sentido, eu sei
Somos pai e filho
Já lá vão três mêses
Mas hoje
Acordei com o peso da paternidade
Sobre os ombros 
Do meu pensamento

Dormi brincando 
Com os pensamentos
De ser pai
E hoje acordei
Com a consciência remoendo
As responsabilidades
De um pai

É coisa nova
As vezes assustadora
Mas as vezes
Muitas,
Extasiante

Nelson Livingston(Renatus)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

René, meu filho I !

Ontem vi a lua enciumada
Bisbilhotando
A nossa intimidade de pai e filho
Apurou o ouvido
E quase nos escutou a conversa
Olhei-a nos olhos
E perguntei
Oque queria
A lua foi sinceira
Disse que se sentia só
No escuro da noite
E queria nossa companhia
Pensei nas estrelas
Que sempre pensei
Que sempre acompanham a lua
E foi ai que percebi
Me lembrei
Que sentir-se só
Não é o mesmo que estar só

Filho,
Eu sou grato à Deus
Porque contigo
Não estou
Nem me sinto só

Nelson Livingston(Renatus)

sábado, 9 de outubro de 2010

Balada da mãe


Um filho é como um pássaro: voa.
Depois do amor, depois do ninho,
vem o adeus, a despedida que magoa,
quando, por fim, busca o seu caminho.

A mãe sabe, por isso não são à toa
a provação, o incentivo e o carinho,
que a seu tempo alimenta e doa,
para todas as horas, a rosa e o espinho.

O mundo é agora a sua casa.
- Voa, meu menino, voa alto e além,
onde pode a alma e o olhar de mãe.

E se os ventos forem de feição,
leva-me também o coração
e alarga o céu a golpes de asa.

João de Sousa Texeira

Carta Incompleta II

Os dias continua assim
Meio divididos
Contradizendo-se uns aos outros
A vontade de te escrever
De viver em palavras,
A eternidade comprimida
Nos dias que passo ao teu lado
Essa ainda me acompanha
Não poucas vezes me pergunto
Como é que o tempo
Pode interceptar-se dessa forma
O passado e o futuro fundirem-se
Num só instante.
Não me pegunte se isso me agrada
Ou me desagrada
Pois a vida tem muitas vezes
Que ser vivida sem grandes respostas
E para isso
Tem de ser inundada de perguntas

Nelson Livingston(Renatus)

ECDISE

como uma serpente
troco as minhas escamas,
deixo minha velha pele
em algum lugar de um chão qualquer.

cresci
e já não entro em meu antigo corpo.
cresci
e minhas ideias,
meus pensamentos,
meus sonhos e realidades
já não cabem no meu antigo corpo

que continua se arrastando por aí.

não ganhei asas, nem pés,
não sei voar nem correr.
mas tenho um corpo novo,
uma pele nova
disposta a ser abandonada
enquanto eu continuar crescendo.

I.R.