quarta-feira, 23 de julho de 2008

A Cristina

Cristina,

Escrevo-te das margens do cimento onde me refugiei por curtíssimo tempo. Uma eternidade invisível de curta.

Depois de não teres dado ouvido as minhas suplicas não encontrei outro jeito se não me afastar. Procuro esquecer-te, ou melhor não lembrar-te que parece menos difícil.

Estou consciente que cedo volto a me deparar com aquela sua beleza assustadora.

Passei a ter medo ate de qualquer mafureira. Foi numa que te vi pela primeira vez.

Tenho medo também do canhoeiro. Foi naquele frondoso onde desejaste que meu pé coxeante tivesse sido mesmo esmagado la na bola onde me pisaram. Xi Cristina, mas que maldade gostosa esse seu desejo atrasado!

Querias mesmo que eu ficasse sem meu pesinho?

Para me levares ao colo como te levo no pensamento?

Querias mesmo que eu passasse as tarde sentado e olhando para teus olhos redondos? Nao seria aborrecido não? Nao nos cansaríamos?

Assim que meu tempo termina, antes mesmo de começar, fico pensando como será o reencontro.

Queria que os leões estivessem perto. Queria que se surpreendessem que haja na terra algo que eu tema mais que a eles. Olhar de novo para você Cristina. Alguém podia convidar os facoceros que nem andam longe. Seria bom bom que soubessem que não soa os unicos que andam de focinho em terra. Mas eu volto Cristina. O destino não me deu outra saída. Volto e seja oque for. O pior que podia acontecer seria me mergulharem no Urema. Nao me simpatizaria de jeito nenhum com os crocodilos, nem com o frio das manhas. Os sonhos ate podiam me agasalhar mas o frio não me deixaria respirar. Nao me deixaria sair vivo do Urema.

E vai tudo começar de novo. O olhar, o sorriso, o rugido do leão...

Meu coração vai parar de novo e você procurar ressuscita-lo Cristina. Estou quase acreditando na encarnação.

Palavras para que Cristina se o dia ja desponta e logo a madrugada me deixara descoberto?

Fica aqui um abraço

terça-feira, 22 de julho de 2008

SUPLICAS A CRISTINA: memorias soltas de Chitengo

Não me olha assim não Cristina
Pelo menos não com esses olhos
De Beleza cristalina
Que tal espada de gume duplo
Me despe em sentido duplo

No olhar mora a verdade Cristina
A plenitude dos sentimentos escondidos
As vozes que tentamos abafar
No olhar moramos nós
No sentido mais completo do ser Cristina

E como se o olhar não bastasse
Não me despisse o suficiente
Como se sobrasse alguma nudez por descobrir
Você sorri para mim Me revelando
A vulnerabilidade já conhecida Cristina

E nesse sorriso ambíguo
Feito de mistérios e revelações
Me sinto humano
Pequenos demais para te falar
Mesmo usando a mais pura poesia

Por isso te peço Cristina
Te peço encarecidamente
Não me olha assim não

Nelson Livingston

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Onde esta o poder do amor?



Para Kidjomalu e Ekuru yo Ophenta


Onde esta o poder do amor?
Onde anda seu fogo?
O vento forte
As tempestades irracionais
Onde esta o poder do amor?

Onde andam os respirares ofegantes?
Pensares de barco a vela
Puxado por forças naturais?
Vai donde sabe para onde não sabe

Nao quero ter memoria
Não quero acreditar que o amor acabou
Que o vento parou de soprar.
Acabaria o amor?
E se chamaria amor oque acaba?

Me disseram que o amor não tem estações
Que la, no reino dos amantes
Verão e inverno são a mesma coisa
Tem frio e calor ao mesmo tempo
Dai que não acredito
Não acredito que o amor esteja em recesso

No tormento que o poder do amor me cria
Ausência dele se diga
Me consolo lembrando
Que vida calada não significa vida parada
Amor sereno também não é pequeno

Nelson Livingston

Carta Para Esperança


Chitengo, 8 de Julho de 2008

Esperança,
É natural que eu goste desse teu olhar furtivo temperado de medo e orgulho.
Esse fingimento atrevido,
A crença de que não saberei de descobrir os sentimentos.
Propositadamente me afasto para lugares seguros,
Fico no longe seja ele no antes ou depois
Para te imaginar inexistente.
A emoção de te criar me deixa extasiado
E como luz ténue do crepúsculo, o receio de nunca te ter desvanece.
E nos eternos instantes que essa vida longínqua dura,
Passo de delírios em delírios
Nuns me vejo pequeno e satisfeito e noutros, grande e carente
Com vontade imensa
Vontade intensa de te buscar para alem dessa imaginação uterinamente fértil.

Esperança,
É natural que que as distancias que nos separam, a real e a virtual,
Existam em constante conspiração contra eu e você separadamente.
Nos dias de sol quando não podemos nos expor,
Elas nos protegem de queimaduras vivas
E nos dias chuvosos, frios e invernosos
Essas mesmas distancias nos agasalham com saudades de tempos que ainda serão.

As palavras me acompanham com incomensurável lealdade
Me encorajam nessa odisseia.
Me fazem acreditar que apesar de sua fragilidade reconhecida
Saberão atravessar esses abismos que hoje nos separam
E edificar uma ponte entre nossas teimosas ignorância.
Acho injusto da minha parte
Quando as menosprezo e acuso de infidelidade.
Quando as empurro
Para irracionalidade que se assemelhe a do homem.
Rogo que desrespeitem os costume ancestrais
Que pacientemente sabiam esperar o raiar do sol.
As palavras estão aqui comigo mesmo assim.
Submissas ao meu capricho de poeta amador.
Fornicador de significados
Criador de mundo proibidos.

É natural Esperança que eu me sinta assustado quando empunhas a pena
E me falas de coração estranho. O meu ou teu?
E que estranheza seria essa?
E porque seria surpresa que os corações, meu ou teu
Fosse estranho e mesmo não sendo, pelo menos agissem?
Me pergunto se a vida no seu todo
Ou em parte
Não é estranha?
Se ate o amor rompe com o pulso das rédeas e ou rédeas no pulso e exige liberdade.
É natural que eu tema
Pois não sei nunca doque esses dedos são capazes.
Dedos untados de maternidade reprimida, prazeres condenados ao silencio.

Escrevo-te hoje Esperança,
Com a sensação das grades onde me meti.
Se tornando cada vez pequenas
O ar me faltando nos pulmões.

Escrevo-te nesse anseio de voltar no tempo
E começar tudo de novo mesmo sem certeza de fazer diferente.
E enquanto espero voltar ao templo das perguntas onde ambos cultuavamos a duvida
Vou deixar que as palavras me purifiquem mesmo que os seus significados me impurifiquem.
Vou deixar que o tempo me leve consigo na paciência dos grisalhos de sabedoria.
Vou te escrever com muita estima
Com muita estima

Nelson Livingston

terça-feira, 8 de julho de 2008

Perguntas


Me tranquei nesse vazio altivo
Vazio feito de suor próprio
Soltei as rédeas da alma
E me perguntei

O destino anda as pressas
E preciso entende-lo

Como vento
Guardado na vela de minha nau
Queria junta-lo aos pedaços
E fazer minha historia
Mas ele se espalha rápido demais

Distante vai o tempo
Esse que em vão
Procuro descobrir no presente
Enquanto subtil
Subtil e imperceptível
Me arrasta ao futuro

Nas nuvens de chuva adiada
Procuro respostas

Nas chuvas alheias
Encontro consolo
Que de ar não enche os pulmões
Desses sonhos que inventei
Por isso ainda me perguntei

Destemido
me perguntei
La se foi o medo, o cruel medo
De não achar respostas
E me perguntei
Com a pureza ingénua das crianças sonhadoras

Perguntei pelo sol e pela lua
Essa presença nua
Que teimosa me acompanha
Pelas estrelas que me distraíram
Perguntei pelo vento que me arrasta

A fortaleza que sempre me protegeu
De tantas perguntas que fiz, ruiu
A sabedoria da lareira de noites de inverno fugiu
Com medo de minhas perguntas se escondeu no tempo
Mas eu tenho um encontro marcado com o tempo
E não posso fugi-lo

Perguntei pelo mar

Pela sua arte de salgar o mal
Conserva-lo puro na alma humana
Que de pureza não tem nada
Perguntei sim pelo mar

Perguntei por tudo e por nada
Por mim e por todos
Perguntei finalmente por ninguém
Essa alma que sei que existe
Mas sabedoria me falta para alcança-la

Nelson Livingston

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Coração Mentiroso(?)


Penso que meu coração mente
Finge que te esqueceu
Que nele nunca exististe
Finge que nunca te amou
Nem mesmo de brincadeira
Mas eu penso que é isso sim
Uma pura mentira dentro de mim

Vejo como nas noites
Ele fica pensando em ti
Um dia ate senti
Que ele estava com vontade de te falar
Mas preferiu se calar
Quando lhe descobri

Existem madrugadas
Em que interrompe o sono
E fica divagando entre o passado e o futuro
Revisita todos aqueles momentos alegres
E as vezes comete a ousadia de ir ao futuro
Imaginar os sonhos feitos realidade

Um dias desses o surpreendi
Todo banhados de lágrimas
E me confessou que tinha saudades de algo

Quando visito os campos
Vejo como olha para a beleza das flores
Essas que se espalham silvestremente
Olha com vontade de enche-las nos braços
E leva-las logo a ti.

Olha para os que ainda se amam
E vejo a dor que sente
Dor de não poder dizer que ainda ama
Não poder amar como podia.

Um dia perguntei se não amava mais
E me disse que não sabia.
Não sabia se amava ou não
Sabia apenas e bem sabido
Que não sabia porque não sabia
pois o amor costuma ser muito evidente

Será que meu coração mente?
Será que não sabe oque sente?

Será que meu coração ainda ama?
Então porque reclama?

Nelson Livingston

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Adeus Gatinho


Sabes que vou partir para as estrelas
Vou sem saber para onde
E pior que essa incerteza
É a certeza de não te levar comigo

O teu miar podia sim me confortar
As vezes me irritar
Mas significaria sempre uma presença
Uma lealdade já provada.

Me encho de coragem
E finjo que não vai doer
Essa viagem desconhecida
Viagem sem ti

Passo noites sem sono me dizendo baixinho
Que nada vai mudar
Mas no fundo sei
Que vai tudo mudar

E antes que essas pobres palavras me escutem a alma
E se desfaçam em lágrimas
Deixe-me dizer-te o primeiro adeus

Primeiro porque em cada dia
Dessa eternidade que hoje nasce
Haverá com certeza um novo adeus

Nelson Livingston