sexta-feira, 28 de março de 2008
À Beleza de Márcia
Um Deus para mim I
Reencontro
Se os ventos viviam me dizendo
Que não existes mais
E ou andas nas distâncias infinitas
Cobertas de ignorâncias infinitas
A memória
Essa é que não descansava
De cavar, escavar e recavar
Trazer de longe momentos esquecidos
E me falava e não se calava
E me perguntava, incomodava
Mas eu não te procurava mais
Esse tempo que passou
Até tentou
Apagar dos nossos registos
O tempo que ficou
Gravado no tempo que existimos
Como as ondas do mar chegam a praia
E desfazem as brincadeiras dos meninos
O tempo chegou
Mas não nos levou de vez
Os castelos de areia
Que nossas infâncias deixaram escritas
Nas praias dum passado distante
O sol raiou hoje
Como no nascente de outrora
Todo vigoroso todo rigoroso
O sol surgiu como no parto de antigamente
Lá onde deixamos ficar
O cordão umbilical
Dessa nossa existência conjugada
Nelson Livingston
quinta-feira, 20 de março de 2008
Adeus?
Que eu encha o Zambeze já cheio
Esse amou me fartou
Se cansou de me amar
E como uma andorinha abriu as asas
Vou visitar o mar
Contar os graus de areia
Vou falar com o sol que manda nos corações
Vou dizer a verdade
Que não acredito no amor
E que nunca menti
Quando disse que não conheço
A cor do amor
Vou rogar os deuses únicos
Esses que moldam destinos
Vou querer que me digam oque me resta.
Nelson Livingston
sábado, 15 de março de 2008
O Sol me Nasceu III

Escuta comigo essa canção
Tape os ouvidos
A alma precisa estar isenta
De outros ruídos
Escute ela se propagando
Pelo éter dessa loucura
Que desmedidamente planeamos
Escute ela nos perguntando a idade
Nos cobrando juízo
Nos lembrando os prejuízos
Escute se eternizando
No cérebro que não termina
E como ondas
Como pêndulo
Escute ela indo e vindo
Sim, ela vai e vem
Escuta ela comigo
Há-de ser que um dia
Precisemos lembrar essa momento
É bom que não seja só meu
Nelson Livingston
O Sol me Nasceu II

E se eu te criasse
Concebida nos dedos do meu cérebro
Te criasse assim
Do mesmo jeito como a vovô Catarina faz
Nessa sua infantilidade de oleira
Mãos sujas de barro
Mente ocupada de imagens
E se aos poucos te desse forma
Corpo, alma, vida
Te sonhasse nesse longínquo mundo
Noites dias passando
Tempos se contando
E te trouxesse do futuro p´ra cá
E surgisses real
Na imaginação
E crescesses até existires
Nos dedos das mãos
E esses
Cruéis
Te moldassem os desejos
Os sonhos de rapariga
Pecados de mãe
Vícios de esposa
E se o futuro e presente
Se fundissem no passado
Num tempo único
Sem tempo, sem medida
Nessa relatividade de Einstein
E tenho medo
Muito medo
Que cedo
desvaneça
Essa memória de infância
Que ainda me lembra de valores
Que quero esquecer
Agora que o sol me nasceu
Tenho medo que eu te crie
Nelson Livingston
sexta-feira, 14 de março de 2008
O Sol me Nasceu I

Assim
Nu como sei estar
O sol me queima a alma
E me assusta na cama
E sonho e acordo
E me deleito nessa infantilidade amadurecida
E sol entra
Primeiro pela nuvem aberta
E pela janela
E pela alma aberta
E entra
Inunda
Desimunda
Esse sótão abandonado
E percorre compartimentos
E sentimentos
Desfaz conceitos
Princípios
Éticas
E o sol não teme
Nunca teme
Me cobre o rosto
O gosto
Me açucara os lábios humedece
O sol cresce dentro
Desfaz fronteiras
Nega realidades
E me queima a alma nua.
Nelson Livingston
quinta-feira, 13 de março de 2008
Cheias no Zambeze IV
Ah Mariana!
Eu te disse que era assim em todas as luas
O Zambeze segue a promiscuidade dos deuses
E se deixa encantar
O espírito do rio deixa o corpo
E segue viagens
Eu te disse Mariana
Que encantamento algum lhe segura
Os ventos que sopram
Nada trazem de novo
Levantam-nos sim as vestes
Deixando a descoberto partes proibidas
Nossas vergonhas seculares
E você sabia Mariana
Faraó nenhum deixou o Nilo Mariana
Por isso te pedi
Roguei que esperasses que os mêses se acertassem
Não sei se também são nove
Que o Zambeze parisse
Te pedi para seres a parteira
Fica Mariana!
Os crocodilos vão precisar de consolo
E a terra molhada
Estrume para as próximas colheitas
Fica Mariana!
Fica!
Nelson Livingston
Originalmente publicado aqui
Cheias no Zambeze III

Tem gente me perguntando
Porque não te deixo
Se a cada ano me queixo
Dessas tuas manias de enchentes
Porque não saio dos teus braços
Me solto em busca de outros amores
Corações mais seguros
Mas eles não sabem querida
Que amor eterno nos une
Amor cimentado pelos mortos
Que sepultamos no teu ventre
Amor encomendado pelo sabor da batata
Alegria dos pepinos dos teus seios
As tuas ancas abobradas
Não sabem da gordura das nossas colheitas
Não sabem da eternidade da nossa história
Que em ti, só em ti
Existe minha existência
Sempre existiu
Mesmo com as tuas manias de enchentes
Mas mesmo sabendo disso
Essa gente pensa que amor sofrido como nosso
Amor regado de lágrimas e tristezas
Não tem graça
Só desgraça
E eu penso que eles estão certos querida
Mas essa gente também não sabe
Que se te deixo não tenho para onde ir
Outro coração que me ame como tu
Nunca me deram alternativa
Nelson Livingston
Originalmente publicado aqui
Cheias no Zambeze II

Quando ambos pequeninos
Por essas alturas de embriaguês
Corriamos atrás dos pepinos
Que inocentes flutuavam no seu ventre
Me lembro como Zambeze se fazia grande
Inundava bananeiras e papaeiras
Inundava crocodilos
E ria-se às gargalhas
Zombando a pequenês dos hippos
Eramos ambos pequeninos
E nas lareiras das noites chuvosas
Agasalhados pelo frio
Nos contavam histórias distantes
Das brincadeiras do Zambeze
Zambeze cresce todas vezes
Cresce todos dias
Basta que o coveiro anuncie a sepultura do Dezembro
Basta o sol de Janeiro nascer
Zambeze cresce
Cresce desde o tempo que éramos ambos pequeninos
Desde até antes de existirmos
Hoje Zambeze cresceu
E o povo esqueceu
Que Zambeze cresce todos dias
Basta que o coveiro anuncie a sepultura do Dezembro
Basta o sol de Janeiro nascer
Nelson Livingston
Originalmente publicado aqui
Cheias No Zambeze I
De àguas pura e impuras
Verdades e mentiras
Cresce de mortes e curas
Cresce Zambeze
Agigante-se nos meu olhos gigantes de fomes
Na riqueza de minha memória
Ontens que nem foram sepultados
Cresce Zambeze
O leito onde me procriaram
Onde se saborearam
Noites de prazeres proibidos
Cresce e deixa suspenso
A batateira que me viu ir à escola
Cresce Zambeze
Podem ser lágrimas essas tuas
Lágrimas que quero que sejam derramadas
Para que o mundo acoda
E eu acorde para o amanha que também quer existir
Esquero que sejam lágrimas periódicas
Nelson Livingston
Originalmente publicado aqui
quarta-feira, 12 de março de 2008
Equivocos amorosos
Te amava como amo à Genoveva
Essa alma de almas misturadas
O leite do coco de Inhambane
Que transborda na areia das ilhas do norte
E surgem os raios do meu sol
Te amaria cobardemente
Envolto no medo de te ter e me perder
De te lembrar e me esquecer
Eu te beijaria na boca Mariana
Como nos sonho estrelados
Nos beijos sonhados da genoveva.
Te levaria à lua
E no prateado das suas ondas
Dançávamos qualquer coisa
Se eu te amasse Mariana
Não falava
Não cantava como costumo ouvir
Deixaria a vida ela própria te dizer
Não escreveria poema nenhum
Deixaria a poesia do meu amor
Transbordar sem palavras
Nelson Livingston
terça-feira, 11 de março de 2008
Saudades do Futuro

Tenho saudades do futuro
Esse nado morto que me espera algures
Tempo que sem dó me aguarda
No escuro da incerteza que me rodeia
Vai longe mas sinto-o bem perto
Me abraça e me aquece o corpo todo
Sempre presente o futuro me persegue
Nas noites de estrelas dançantes
O futuro me enche os cabelos brancos
Me faço sábio, me faço velho
E sonho com a velhice, sonho com a sabedoria
Escuto a música do vento
Acaricio o pensamento
E o futuro me abraça, me aquece o corpo todo
Ah que sonho delicioso
Não sei se o futuro vem a mim
Ou se eu vou a ele
Só sei que nos encontramos algures
E é desse lugar que sinto saudades
Como se já lá tivesse estado.
Nelson Livingston
Ao Elogio da Fátima

Fatucha me nega às palavras
Acha que são grandes demais para minha alma simples
Alma que Fatucha nem conhece
Mas julga conhecer de algum jeito
Fatucha me vê pequeno ao tamanho dos grandes
E nem me vê
Na sombra dos grande onde me procura
Onde ela me enxerga
Eu nunca estive lá
E me procura e me procura
E me nega e me nega
Fatucha tens sorte já te disse
Carrego nas entranhas uma alma forte
Robusta como o embondeiro
Sabes como é o limoeiro
Não é azedo mesmo parindo limão
A alma que carrego
É espaçosa como Zambeze
Se enche, cresce e faz estragos quando quer
Mas também rega, dá banho e peixe
É alma crescida que vento não abana
Alma veloz que vento não apanha
Essa é tua sorte Fatucha
Se me almasse um riacho
Coisinha que molha e seca como ondas do mar
Ai que me sentiria ultrajado já te disse
Ultrajado que me negasses às palavras
Que as achasses grandes demais
Para demais para minha alma simples
Alma que nem conheces
Mas julga conhecer de algum jeito
Nelson livingston
segunda-feira, 3 de março de 2008
Abraço

Abraça-me forte
Como faz a morte
Quando chega e cega as vontades
Abraça-me
E vê se não diz nada
Me basta a voz de teu coração
Essas batidas suaves
Que me falam em diversas línguas
Oque numa só entendo
Amor
Abraça-me e deixa o tempo passar
Deixa ele ir e vir
Nesse pêndulo gostoso
Que nos embala
Que nos faz sonhar e acreditar
Nesse silêncio que criamos
Apressados como são nossos pensamentos
Abraça-me e deixe-nos ficar
Assim como estamos abraços
Na eternidade
Nelson Livingston